Eu quero escrever um poema em cima de um reino
Que dentro de alguns instantes não verei mais
Eu quero asas arrancadas de um anjo bom
Sarado com mercúrio e laranja, cravado com cravos
Eu quero um hálito fresco de hortelã
Para tatear os botões do meu rádio e te achar em uma canção
E que ela seja simples, aliás... seja de todo o jeito
Toda! Toda nossa!
Eu quero flores do meu inimigo
E um abraço sincero, com pedidos recíprocos de perdão
Uma roda de samba virtuosa, onda beberemos por toda a noite
Amarrados por um só coração
Eu quero uma primavera só para mim
E que todas as outras estações explodam aqui dentro
Eu quero cheiro de jasmim, na sacada do meu apartamento
E se tudo der errado, não esquenta: eu invento
Eu invento o cheiro, eu reinvento o beijar
Os amores malditos e os outros que também vão ficar
Procuro com a ponta da faca os meus nervos
E retiro a flor da pele, só para você
Eu quero plantar uma muda híbrida
Que brote no seu coração
Eu quero escutar a voz da margarida
Rindo solta, toda boba, no meio da multidão
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