O Ministro da mão mole

Anjo-Angelim,

                Depois de Neruda, você diz que sou eu: Neruda morreu e eu já não vivo mais em mim (e na cadência do reggae, misturamos – eu, você e Neruda – o carmesim. E você me dizia: “não faz assim” (agora faça que eu faça o imperativo correto por mim!).

E na madrugada danada, você me ligou quase sem querer incomodar: “Alô” do lado daqui, “Alô” do lado de cá (já estamos juntos!). E você, com a voz vibrante (avós brilhantes), cabeça obtusa (a noite tem dessas coisas...) guardava na mente e no coração o nobre propósito de resgatar a paixão, acender o desejo da Casa do Pai: Pia só!

O tempo de silêncio, palavra e oração, resume-se, tão somente na vontade incessante de “apaixonar-se por Deus”. E agradeço pelo teu testemunho e pela nossa koynonia, as quais têm me guiado das trevas para a luz, mesmo com as adversidades que se erigiram no meu âmbito pessoal.

                Eu sei que o mundo, “institucionalizado” dentro de um templo, tem se esforçado para nos transformar em outra pessoa. E brinco com o “eu lírico” para deixar toda a crítica mais divertida. Chamam-nos: guri, gênio, puta, cachorra maldita (sem perceber que falam de si mesmos. “Ó segredos da tapa malvada”).

                Destarte, não atines para os estratagemas do inimigo, o qual teima em investir nos teus momentos mais antigos (“eis que tudo se fez novo”). Tudo que és, és de graça, a qual não pode ser recebida sozinha (Amém!).   

                Esquece o ministro da mão mole que vai de encontro ao apertar da tua (Domenech nos ensinou a tratar)! Mais vale a extravagância do amor do Pai vagando pela gratidão dos seus filhos pela pura e imerecida abundância de Suas bênçãos que tais "sugismundos".  Somos, enfim, filhos de Aba. Deixemos nossa pretensa vida espiritual ao lado, com sua fantasia de auto-engano.

                Miserere me, Domine, secundum misericordiam, tuam! E o diabo dizia: Amém! Tem na minha casa e na tua, também! O que aflige teu corpo e alma na tentativa descontrolada de se tornar agradável a Deus? O intolerável sentimento de superioridade espiritual? Acordo e durmo com o mesmo sentimento perturbador: afinal, serei mesmo eu, Senhor? As verdades periféricas são ditas a todo o momento, mas somente as verdades centrais partem de  dentro do poço!

                Alguém já me disse que o mistério é destruído pela palavra! Mas, a Palavra dá vida, em abundância! Desejo, de todo o coração, que as suas expectativas se frustrem, que todos o seu planejamento caia por água abaixo, que as suas fantasias murchem até o insignificante: “necessário é nascer de novo”. Que a impotência e a indigência da sua criança encontrem colo no Criador , razão da nossa fé!

Cantemos e dancemos no amor de Deus! Mas, se a mão mole te oferecerem, aperte com o amor do Pai, com o perdão do Filho e com a consolação do Espírito Santo!

De quem muito te ama,

Bruno Vianna Leal