segunda-feira, 7 de março de 2011

Baile dos Mascarados

No baile à fantasia
Há fantasia

     O carro de som anuncia, com dois meses de antecedência, o BAILE DOS MASCARADOS. Frisson, publicidade e um sorriso amarelo, de quem tenta convencer a si mesmo de que o Baile deste ano será inesquecível, tônica repetida e frenética do velho-novo ano, para o mesmo novo homem de sempre: ele sempre promete que vai!

     O pierrot acerta a mão na tinta e faz cara de palhaço. Esquece, todavia, o mimo debaixo do braço. Já está longe de casa e decide ir assim mesmo: alguém vai converter essa tristeza em sorriso, daqui para o final do baile. Os amigos incentivam e juram que viram a columbina tirando o perfume da flor.

     Arlequim, que já havia tomado um pileque, limpa a boca nos retalhos de losango e diverte a multidão no intervalo das atrações: é a arte de se divertir divertindo o povo! A policromia aguçada destaca a cena e o cenário. Entre um gole e outro, estiva o pescoço e procura a columbina. E basta que dê uma tapa no tabaco para que o incenso maldito permeie e perturbe: o banqueiro generoso, o ministro simplório e o juiz erudito.

     Enquanto isso, o pierrot, cansado de esperar a columbina, se perde na esquina a chorar. Sentado, com sua roupa larga (outrora branca), pálido por minancora, a lágrima teimando em não cair, ingênuo-bobo e confiante na bondade humana. Fosse uma pierrete, Bento Santiago teria atado as duas pontas da vida.

     Lá de longe, o Arlequim, quase-invisível, guardado entre a agitada multidão, é visto de relance pelo velho ancião (os novos estão a gozar (d)a vida em casa!): um grito na multidão (talvez o último)! O Arlequim, agora visado pelas novas damas (sempre novas e de boa educação), resolve empreitar fuga. As crianças, ávidas por vingança, correm trôpegas na expectativa de recuperarem seus doces e brinquedos que o Arlequim lhes roubara.

     Eis que chega a Columbina e aprecia o alvoroço. Para azar do Arlequim, no momento da chegada, é flagrado, de relance, cometendo mais um roubo. A dama beijada, que não entende nada, faz cara de desgosto. Com a festa acabada, a Columbina decepcionada promete dar-lhe o troco: o policial, bigodudo, intercepta o Arlequim que, com inseto em seu rosto, vê de longe a Columbina.

      A Columbina, da esquina, encontra-se com o Pierrot. De imediato taca-lhe um beijo para enciumar o Arlequim, que de longe desdenha de toda situação. A Columbina, arrependida, sai correndo a chorar. O Pierrot, já revoltado, vai ao encontro do Arlequim para arrebatar-lhe o coração. O Arlequim, que é muito safo, sai em disparada.

     Ao passar pelas casas, vê uma dama sorridente. Sem pensar com a mente boa, entrega o coração na porta da casa da boa moça. Faminta, a bela devora o perseguido coração, transmutando-se, de imediato, em um novo Arlequim.

     E todo velho ano novo é a mesma palhaçada: seja no sítio, seja na granja, seja na escola, na cidade ou na barra! Quer seja cantor de cabaré russo ou Bakken a visitar.




3 comentários:

  1. Inteligência intangível, como diria o nosso amigo Emmanuel (rsssssss)!

    Bruno, seus versos e artigos (eu posso ter a liberdade de chamar de crônicas?) estão conseguindo uma proeza: ficam melhor a cada dia que passa.

    Cada postagem é uma relíquia constituída por: inteligência, crítica com elegância, aberração de conhecimento linguístico e cultural e maturidade intelectual.

    Fico babando com os textos! Parabéns!

    PS: o convite para a coluna continua de pé! Pare de bancar o artista que só escreve quando quer e vamos fechar, pelo menos, quinzenalmente!

    Beijos!

    ResponderExcluir
  2. Valeu! Mas... aqui é só diversão mesmo! Beijo!

    ResponderExcluir

O que você achou deste artigo?