domingo, 29 de abril de 2012

Ao maestro ambidestro


Quantos irão beijar minha mão
Com o asco que sentem de Tabasco

Que os caranguejos me belisquem de raiva... me desfaço
Disfarço e finjo que não

Para aquém, pular de paraquedas
Das pedras que não vejo daqui de cima
Quantas asas de urubu serão cantadas
Até que mil crianças não sejam estupradas?

Quantas mães serão malditas ou humilhadas?
Enquanto você sai para beber com os amigos
O anjo do sabbath sobrevoa a periferia de onde veio
Ri-se com um sorriso crônico, irônico
Se volta para trás e se deleita com mais um sangue na esquina

É êxtase no Carnaval de Salvador, carreata em Brasília
E essa mídia que não é minha
Guarda na memória de elefante a infame responsabilidade de nada saber
Das mulheres apanhadas por nada, dos maridos infiéis
E da lente pueril que se acostuma com o seio da maldade
Que jorra o leite amargo da ingratidão
Misturada com duas colheres de Nescau e cocaína

No colo das meninas, uma boneca, uma tubaína, outra menina
De um ventre que mal se formou, que mal se informou
De tudo que vejo, repito: que mal eu fiz?
Quando eu contar até três, tudo estará do mesmo jeito
Mudam-se os tempos, pretéritos, trocam-se os sujeitos
Filhos de uma pátria trôpega, malcriada e mal parida
Filhos de uma puta, rapariga, que afagam tua barriga
E te obrigam a matar

Um brinde a deformação da informação já corrompida
Aos cofres combalidos, ao olho gordo maldito
Às freiras que acordam molhadas, aos padres que comem meninos
E aos pastores de Satanás, por suas orelhas espetadas
Por seus rabos sujos, escondidos nos anais do ânus de uma falsa cristandade

Cristo é cedo... Cristo, não tarde!
Pois me ardem essas bocas de plástico
Caiadas de nada... se não matam, comem cru
Cruzarei o céu na asa-delta do amor
E não terei onde pousar

Beije-me com a boca quente, inflamada
E estoure todo esse pus, ao cair das nossas bocas
Sobre roupas que cosemos, sob as folhas do paraíso
A encardir esse solo perdido
Sobre a pátria dos apátridas

Acorde para ver a velha dor!
Acorde da velha dor, em Dó maior, por favor!

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