Domingo, 10 de abril de 2011, vinte horas e trinta minutos. O placar do Engenhão marcava 2x0 para o Flamengo. Mais uma vez, não foi dessa vez. Jogamos como nunca, perdemos como sempre! Trem para Central do Brasil. Zoação dos flamenguistas. Tempo não passa. Descida na estação. Quase trinta minutos esperando uma van/ônibus que me levasse de volta para Niterói.
Na ponto de ônibus, uma barraquinha de água e besteirinhas. Três mulheres operam a barraquinha: Larissa (aproximadamente, 13 anos), a mãe e a irmã. Passa a carrocinha de CD’s piratas tocando um Funk. Larissa balança o esqueleto. Começa o entreveiro!
A mãe da Larissa, manda o recado:
- Depois não me venha com essa de Igreja (com “I” maiúsculo mesmo!)”.
Um dos senhores que espera o ônibus, curioso (ou querendo defender alguma bandeira) questiona:
- O que a igreja (já em minúsculo) tem a ver com isso?
Larissa, como que escusando/instigando pela milésima vez:
- A minha mãe diz que eu não posso gostar de Funk!!!
A mãe corrige:
- Você sabe que não é assim! Eu não gosto de crente, mas prefiro que você esteja na Igreja do que fazendo besteira por ai (dando idéia de que o referido “estabelecimento” atue como qualquer tipo e centro de recuperação social).
E prossegue:
- O que não pode é você cantar lá no coro da Igreja e gostar de Funk, ao mesmo tempo.
A irmã intercede pela garota:
- Mas qual é o problema? Não está escrito: “Deixai vir a mim todos...”
A memória falha e o “ditado popular” já não consegue ser expresso em sua totalidade. Também, não precisava! Todos, ao redor, balançam a cabeça como que cientes do restante do versículo, ainda que, também, não fossem capazes de completar a oração.
Larissa já respira mais aliviada, no momento em que a mãe interpela:
- O problema é que o Pastor (com “P” maiúsculo) mal diz “Amém” e a Larissa já sai dançando o Funk lá do púlpito mesmo.
A irmã da Larissa, ato contínuo, reconsidera o pensamento:
- Ah! Desse jeito está errado mesmo! Assim que termina o culto, também, "não pode não"! E dentro da Igreja... pior ainda!
A mãe aproveita para avaliar os pedidos da pequena Larissa:
- Depois você vem me pedir R$30,00 (trinta reais) para a roupa do Coral!
Larissa se defende, jogando a culpa da maçã para o Pastor-Adão:
- Mas mãe, o Pastor falou que é obrigação da gente! Que se a gente ama a Deus tem que servi-lo e que todo mundo do coral tem que pagar essa taxa. Na hora, eu até fiquei triste porque já sabia que era muito dinheiro e a senhora não tinha como me dar. Será que eu vou para o inferno?
- A mãe, puxando o freio de mão, alivia:
- É mais fácil você ir para o inferno com o seu FUNK do que se não pagar essa roupa. Agora... o problema não é só esses R$30,00 (trinta reais). O pastor sempre manda a gente pagar mais coisa: CD, retiro, ajuda para os mais pobres, missionário, oferta, reforma da igreja, almoço comunitário, compra de instrumento, material da Escola Dominical, taxa do Coral, e por ai vai.
E prossegue:
- Por isso é que eu não sou crente. Eu já não tenho dinheiro! Já imaginou se, ainda por cima, eu fosse obrigada a dar o dízimo? Aí é que eu estava perdida de vez. Iria trabalhar para dar meu dinheiro todo para a Igreja. E eu ia comer o que? Morar aonde? Se for para ir para o inferno, deixa eu ir para o inferno mesmo! Prefiro ir para o inferno, mas ter o que comer, do que ir para o céu passando fome!
Depois da mordida, o assopro:
- Larissa, você sabe que esse dinheiro vai fazer falta. Mas o que é que uma mãe não faz por um filho, não é mesmo (perguntando a todos que estavam por perto)? Eu arranjo esse dinheiro para você, mas você vai ter que decidir se você quer ficar na Igreja mesmo. Se continuar dançando Funk, não dá! Não vou dar dinheiro nenhum, porque daí eu vou estar jogando dinheiro no lixo!
Meia dúzia de argumentos da Larissa para cá e para lá, a VAN chegou e eu já estava pronto para encarar a RJ-Niterói. Se a Larissa vai, ou não, comprar a roupa do Coral eu não sei, mas, pelo que percebi, o Funk está no corpo da menina (ou seria o capeta?). Pelo que eu notei, acho que vai ser difícil a menina cambiar a dança pelo Coral.
Estaríamos tratando sobre um “Jesus ou Barrabás?” ou estaríamos tratando sobre uma “Jesus ou Jesus?”
Pelo sim, ou pelo não, a certeza de que essa discussão vai se repetir em qualquer outro lugar deste meu Brasil é a mesma de que o Botafogo vai perder para o Flamengo nas próximas vezes.
Às vezes, queria poder gostar do Flamengo, também. Fazer o quê? Nasci Botafogo! Não posso mudar (Gabriela!).
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