segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Foucault, rapport e paixão!


Eu e a minha mania de estudar e aprender através de uma produção de texto, ou mera contribuição/partilhar. Vamos lá!

Faz alguns anos que fui apresentado formalmente à técnica do rapport, no desenvolvimento de atividades investigativas relacionadas aos mecanismos de controle legítimo da violência, dos indivíduos chancelados como detentores da monopólio da coação estatal. Pois bem...
            Ao procurar e pesquisar um pouco sobre o tema, pude perceber, em linhas gerais, que o rapport remete a um conceito do ramo da psicologia: uma ferramenta para criar uma ligação de empatia (outros dirão “sintonia”) entre o indivíduo detentor da técnica e a outra pessoa (entendo por demasiada dificultosa a pecha/alcunha “alvo” ou “interrogado”).
            A palavra rapport, como é cediço, é oriunda do termo francês “rapporter” a qual significa “trazer de volta”.  Com tanta tecnologia disponível no mercado, acredito que o termo mais aproximado – e que possa fazer com que este que vos escreve seja pedagogicamente entendido – seja SINCRONIZAÇÃO.
            Acredito que estejamos, inevitavelmente, na era da pós-informação. O bulhonismo da informação, entretanto, já não tem se apresentado de forma tão eficaz: de que vale a informação, se não é possível processá-la, organizá-la e, acima de tudo, SINCRONIZÁ-LA de acordo com o interesses?
            Passada essa divagação/consideração sobre os aspectos que possam circunscrever a SINCRONIZAÇÃO, cabe consignar os três componentes comportamentais que envolvem o rapport, a saber: atenção mútua, positividade mútua e coordenação (confesso que tenho me impressionado bastante com esta técnica, bem como os reforços positivos, ao mesmo tempo em que tenho procurado me afastar destas nas minhas relações cotidianas – tomar gosto por isto pode ser um jogo perigoso).
            À ocasião da degustação da obra “As Palavras e as Coisas – Uma Arqueologia Das Ciências Humanas” (Michel Foucault), ingenuamente, me deparei, logo no capítulo II, intitulado “A Prosa do Mundo”, com considerações do autor sobre SEMELHANÇA (item I: “As Quatro Similitudes”).
            Neste diapasão, Foucault reconhece o papel da semelhança na construção do saber da cultura ocidental, enquanto condutora da exegese e interpretação de texto, através da organização de símbolos, os quais permitiram o conhecimentos das coisas visíveis e invisíveis: é a representação pela repetição (visum et repertum).
            Dentro das figuras que prescrevem suas articulações ao saber da semelhança, Foucault destaca quatro elementos essenciais, os quais destacaremos a seguir. Neste sentido, a associação entre o rapport e este recorte da obra de Foucault foi inevitável. Quando eu parei para pensar, já havia escrito as primeiras linhas, aportando minhas singelas considerações.
            Adiante, o primeiro elemento destacado por Foucault enquanto essencial no processo de articulação que desembocará na semelhança é a conveniência (ou, ainda, similitude). Trata-se do emparelhamento das “coisas”, da aproximação, da boa formatação, do “tocar de bordas”. Nesse sentido, há de salientar que os movimentos se emparelham, assim como ocorre com as influências e com a paixão.
            Quanto à paixão, cabe consolidar a sinergia entre o corpo e a alma: a alma, inevitavelmente, recebe e assimila os movimentos do corpo. Entretanto, inegavelmente, o corpo se altera e se corrompe pelas paixões da alma! (G. Porta. La physionomie humaine. Trad. francesa, 1655, p. 1). Nessa simbiose a qual chamamos mundo, os seres, os corpos, as almas, se ajustam, adequadamente, uns aos outros! Estamos, pois, diante de uma aproximação gradativa, que nos guiará em um processo de escolha, o qual reconheceremos por amor!
            Enquanto ser eternamente resfolegantemente apaixonado, confesso que o elemento “paixão”, destacado na obra de Foucault, me encantou os olhos a ponto de devanear e passear sobre as mais diversas ilações, até que eu pudesse chegar neste inevitável encontro entre o eu-estudante (Foucault) e eu-profissional da segurança pública (rapport).
Foucalt ainda destacará outros elementos, tal qual a “emulação”, que corresponde à filha de uma dobra, ou, apenas, um reflexo: “O semelhante envolve o semelhante, que, por sua vez, o cerca e, talvez, será novamente envolvido por uma duplicação que tem o poder de prosseguir ao infinito” (página 28).
            Em terceiro lugar, Foucault enumerará a analogia. Trata-se de um conceito exaustivamente familiar à ciência grega e ao pensamento mediévico. Estamos, agora, diante de um processo de “ajustamento”, sobre os elementos que rodeiam, ou sobre si mesma. É somente através dessa reversibilidade e polivalência da analogia (caracteres fundamentais desta) que às figuras do mundo se permitirá aproximar.
            Por sim, Foucault destacará as simpatias. Nesta, não há determinação, nem encadeamento previamente prescrito. Ressalta-se, também, a possibilidade de transformação que as simpatias trazem em seu bojo. A simpatia é capaz de tornar coisas idênticas, misturá-las e fazê-las desaparecer em sua individualidade, cf. assevera o autor, antagonizada, por quem não cabe lugar de destaque nesta oportunidade: a antipatia.

            Um grande abraço a todo(a)s! Vibrações sempre positivas e boa semana!

           

Bruno Leal

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