2013! Era dia de mais um Sarau com o selo "Suzy Lopes" de
qualidade! Um panteão de artistas se aglomerava, como de costume, nos recônditos
do Empório Café. Recito alguns versos e, após momentos de puro gozo da alma, é
chegado o momento da grande feira: abraços, sorrisos, promessas de encontros
que nunca iriam ocorrer... papos em dia, novos ciclos de amizade! (por vezes, meu
envolvimento com o binômio docência/perícias me afasta de tais momentos).
Entre cervejas e excentricidades peculiarmente artísticas (pleonasmo!)
sou interpelado pela produtora Anne Fernandes, a qual se mostrou interessada em
acompanhar um pouco do meu trabalho. Indico a leitura do blog. Alguns dias se
passam e sou convidado para participar do corpo de jurados do Festival de Poesia
Encenada do SESC. Mais que isto: antes do anúncio do resultado final, eu teria
a oportunidade de recitar alguns poemas.
Minha alma estava em êxtase: assistir, em posição privilegiada,
uma “pororoca da alma”: Poesia Encenada! O evento superou as expectativas: minha
alma explodira ao longo das sucessivas apresentações! Ao final do evento, o
poema “Crônicas Rimadas de Uma Cidade” (autoria de Carlos Fernandes),
interpretado por Anunciada Fernandes e dirigido por Marcos Pinto, saiu vencedor!
Ao final da premiação, sou apresentado a Marcos Pinto. Ele me
abraça como se me conhecesse há anos, diz que se emocionou no momento que
declamei as poesias. Pergunto qual delas, em especial. Sem perder tempo ele
emenda: “eu me emocionei muito com aquela que falava das asas de um anjo bom...
de dar flores ao inimigo... de uma canção simples... de abraço sincero...
pedidos recíprocos de perdão”.
Na verdade, a sensibilidade de Marcos Pinto (sua assinatura
artística) pôde contemplar conexões tremendas que nem mesmo eu, enquanto autor
do poema, havia percebido. As palavras (ditas com a voz rouca após tanto esmero
na produção da apresentação) me soavam afetuosas e verdadeiras: nascia uma nova
amizade (percebam que eu não falei “relação profissional!”).
Por vezes, tinha a alegria de ver publicado, em seu perfil social,
algum verso meu. Conversávamos sobre sentimentos expressos na arte e na arte do
sentimento dos versos!
Entre encontros e desencontros da vida... nos reencontramos em
mais um Sarau-Suzy-Lopes! Ao final das apresentações, sentamos e conversamos
por um longo tempo! Viagens, projetos, apresentações que prometi ir e não fui,
sentimentos, vida: A-M-I-Z-A-D-E!!!
Ao final, recebo um pedido inusitado: “– Bruno, queria te pedir
uma coisa” (como se eu pudesse negar algum pedido dele...) “ – Gostaria de encenar
uma Poesia sua no próximo Festival!”.
Eu quase não podia
acreditar naquilo! Ele puxava pela memória meia dúzia de poesias, falava um pouco
sobre os meus rabiscos, enquanto eu me perguntava por dentro: “– alguém,
realmente, se importa com as minhas linhas?”. Ele se importava!
Hoje, por um descuido-cuidado do destino, o Bruno-CSI não estava
de plantão em João Pessoa. Daqui de Campina Grande (segue a correria da
vida...), grupos de notícia começam a tratar sobre mais um caso de morte na
Capital. Um repórter, me chama no reservado e pergunta: “Bruno, boa noite! Você
foi para a ocorrência do Tambiá? É o ator mesmo, não é?”... (começo a gelar...
conheço alguns...). Ao perguntar qual seria o nome, recebo como resposta em
letras-de-punhal: “MARCOS Fábio Costa PINTO”. Corro paras as redes sociais e
confirmo o adeus inexplicável-inesperado, revoltoso-doloroso. Repito comigo
mesmo: a morte é covarde!
Dói o coração... escorre pelo corpo... dói cada centímetro de alma
impalpável!
Mas a arte... a arte não morre, jamais!
Meu amigo, Marcos Pinto: vai com Deus e fica conosco... bem aqui no
coração!
Deixo, por fim, alguns versos do poema “Que Se Explodam as Estações”
(aquele que falava das asas do anjo bom):
“Eu quero escrever um poema em cima de um reino
Que, dentro de alguns instantes, não verei mais
Eu quero asas arrancadas de um anjo bom”
Eternamente de luto,
Bruno Leal
Eu, na tentativa de que aqueles olhos azuis, transparência das emoções infantis, iluminasse meu coração escuro dessa noite,acabo caindo aqui entre palavras que escurecem ainda mais a noite. Palavras certeiras, fiéis a essência de Marquinhos, amorosas..... A descrição sensível e sincera de um amigo especial, me levou a recordações e sorrisos, mas é o amor duelando com a aceitação da perda, e contra a morte, ninguém pode.
ResponderExcluirNovo choro...