terça-feira, 26 de junho de 2012

Penumbras


A ingratidão é uma penumbra:
Não fede, nem cheira
Tateia as teias que se escondem em outro pôr do sol
E se abriga por debaixo das unhas sujas de um outro que não sou eu

Escreve pelas ancas, como tatuagem tardia
Ardendo pelo meio das costas
E deixando o seu mel a escorrer até o calcanhar
Para quem for de escritório, eu desejo a força cartesiana que sobrar

Não te quero mal, muito menos saber por onde andas
Não violo o teu mural, sarau dos terreiros de umbanda
Quantas refeições saudáveis para um ano?
Quantos cafajestes para um só final de semana

Igrejas sem muro, pois as gorduras escorreram pelas paredes
E não deixaram o incenso subir: monoteísta.
Proteínas do ouvido de Deus!
 E esse tique que me coça a cabeça me faz cheirar hortelã

Como se as bocas malditas tapassem o odor
De uma ave maligna que entra pela janela errada
Eu quero a prisão do meu pesadelo para depois de amanha
Andar, com respeito, sob as covas vadias, com as putas valentes

Entra, mas entra bem devagar!
Divaga essa fumaça colorida por dentro dos ossos
Acelera o coração e faz a refeição pela madrugada
Ao meio-dia, se acordar, finge não saber nada

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